quarta-feira, 16 de julho de 2008

Borboleta

"A Borboleta é o símbolo da alma, pois da mesma forma que esta abandona a crisálida para voar, o espírito também se liberta do corpo físico para ganhar espaço infinito. Representa ainda o renascimento e a imortalidade. No Japão, surge associada à Mulher, visto que, a metamorfose do seu ovo para lagarta, desta para crisálida e, seguidamente para borboleta, indica as etapas da nossa alma para atingirmos a iluminação.

A Borboleta simboliza a mudança... “O poder da borboleta é como o ar, é a habilidade de conhecer a mente e de mudá-la, é a arte da transformação”. As pessoas deveriam observá-las atentamente e, assim como elas, estar em algum dos seguintes estágios de actividade:

1. Estamos no primeiro estágio - quando a ideia nasce, mas ainda não é uma realidade, é o estágio do ovo, o ponto de criação de uma ideia;2. O segundo estágio - da larva, surge quando temos que tomar uma decisão;3. O terceiro estágio - do casulo, é o desenvolvimento do projecto, é fazer para realizar;4. E o estágio final - a transformação, é deixar o casulo e voar, é a realização!"

sábado, 12 de julho de 2008

Eu gostava de olhar para ti,
E dizer-te que és uma luz,
Que me acende a noite,
me guia de dia e seduz.
Eu gostava de ser como tu,
Não ter asas e poder voar,
Ter o céu como fundo,
ir ao fim do mundo e voltar.
[Refrão]
Eu não sei o que me aconteceu.
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém,
Como tu.
2º verso]
Eu gostava que olhasses para mim,
E sentisses que sou o teu mar,
Mergulhasses sem medo,
um olhar em segredo,
só para eu
Te abraçar.
[Refrão]
Eu não sei o que me aconteceu,
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém
Como tu.
3º verso]
O primeiro impulso é sempre mais justo,
é mais verdadeiro.
E o primeiro susto dá voltas e voltas
na volta redonda
de um beijo profundo.
[Refrão]
Eu...
Eu não sei o que me aconteceu.
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém,
Como tu...
Eu...
Não sei o que me aconteceu,
Foi feitiço,
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém,
Como tu...
Como tu.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Honour to love you.......

Just like a star across my sky,
Just like an angel off the page,
You have appeared to my life,
Feel like I'll never be the same,
Just like a song in my heart,
Just like oil on my hands,
Honour to love you
Still I wonder why it is,
I don't argue like this,
With anyone but you,
We do it all the time,
Blowing out my mind,
You've got this look I can't describe,
You make me feel like I'm alive,
When everything else is au fait,
Without a doubt you're on my side,
Heaven has been away too long,
Can't find the words to write this song,
Oh...Your love,
Still I wonder why it is,
I don't argue like this,
With anyone but you,
We do it all the time,
Blowing out my mind,
Now I have come to understand,
The way it is,
It's not a secret anymore,
'cause we've been through that before,
From tonight I know that you're the only one,
I've been confused and in the dark,
Now I understand,
I wonder why it is,
I don't argue like this,
With anyone but you,
I wonder why it is,
I wont let my guard down,
For anyone but you
We do it all the time,
Blowing out my mind,
Just like a star across my sky,
Just like an angel off the page,
You have appeared to my life,
Feel like I'll never be the same,
Just like a song in my heart,
Just like oil on my hands

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Café de sempre...

"Há lugares q são pequenos abrigos para onde podemos sempre fugir..."

Obrigado por estarem sempre por aí...
Sempre por perto, sempre com um colo descartável, pronto a usar... incansável e paciente...
Amo-vos... sem medida nem peso!
Temos em nós a capacidade de viver e acreditar naquelas coisas que valem a pena, que nos fazem sonhar e continuar a acreditar no sonho, aquele que teimamos em suprimir a favor da manutenção da integridade da casca... pois digo, repito, sublinho e subscrevo-me a mim mesma: de que vale a casca se a gema não tiver sabor a sonho?
Eu sinto amor...
...quando a saudade aperta...
Numa relação é rápida a transição entre o tudo para o outro e o egoísmo do tudo para o próprio...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

"Pus-me a Pensar" Sam the Kid

Pus-me a pensar
No meu azar
Se não ficar
Contigo aqui
Já sei o que quero
Tou certo, seguro
(...)
Então percebe o que eu sinto
Eu não minto, eu juro
Que vi-te no meu futuro
Aceitas o meu convite?
É puro
És adição
És o meu sedativo
Definição de amor definitivo
Amor infinitivo
Verdadeiro até á cova
Não sou Casanova
(...)
Confia, dá-me amor.
Eu guardo-to.
O meu estado de espírito
É querer estar-te a despir
E tirar-te tudo para fora
(...)
E tar rodeado com respeito raro
De imediato,
(...)
REFRÃO:
Pus-me a pensar
No meu azar
Se não ficar
Contigo
Pus-me a pensar
No meu azar
Se não ficar
Contigo aqui
Adoro os teus caracóis
Desde o primeiro dia foram como anzóis
Fiquei vidrado
No teu olhar encantado
Mas desiludido por achar que tinhas namorado
Dia 28 foi a transição
Que me fez chegar a uma conclusão, vamos
Viajar pelo mundo como imigrantes
Cortar a distância que nos deixa distantes
(...)
É o que me faz sorrir ao acordar pela manhã
Isto é um projecto
(...)
Sem medo do futuro
A ver o pôr do sol e a ter-te sempre por perto
REFRÃO:
Pus-me a pensar
No meu azar
Se não ficar
Contigo
Pus-me a pensar
No meu azar
Se não ficar
Contigo aqui
Pus-me a pensar:
"Não será mais do que isso.
"Mas como tudo nunca será tudo
Porquê um escudo?
Porque não queres ver o que o futuro nos guarda?
Quero que sejas esposa, minha namorada
Estou á tua espera ....
Disposto a tudo, tu sabes
Nunca acreditei no destino
Mas emocionei-me com este hino
Ao ponto de me perguntar
Se é isto o porquê de um ser se emocionar
Porquê de não deixar essa roma vir á tona
Toda a gente se apaixona
Mas todos acham o amor foleiro
Este é de ti, e parece ser verdadeiro
Por ele, largo a minha vida de solteiro
(...)
Tu e eu
Sem fim

"The Limit To Your Love"

Clooouds part
Just to give us a little sun
There's a limit to your love
Like a waterfall in sloooow moootion
Like a map with no oooocean
There's a limit to your love
There's a limit to you care
So carelessly there
Is it truth or dare
There's a limit to your care
I love I love I love
This dream of going upstream
I love I love I love
The trouble that you give me
I know I know I know
That only I can save me
I'll go I'll go I'll go
Right down the rooooad
There's a limit to your love
Like a waterfall in slooooow moootion
Like a map with no oooocean
There's a limit to your love
Your love your love your love
I can't read your smile
It should be written on your face
I'm piecing it together
There's something out of plaaace
Ooooh
I love I love I love
This dream of going upstream
I love I love I love
All the trouble that you give me
I know I know I know
That only I can save me
I'll go I'll go I'll go
Out on the rooooad
Because there is no limit
There's no limit
No limit no limit no limit
Limit to my looooove

sábado, 7 de junho de 2008

estados de alma...

"Teus sinais
Me confundem
Da cabeça aos pés
Mas por dentro
Eu te devoro,
Teu olhar
Não me diz exato
Quem tu és
Mesmo assim
Eu te devoro...
Te devoraria
A qualquer preço,
Porque te ignoro,
Te conheço,
Quando chove ou
Quando faz frio,
Noutro plano
Te devoraria
(...)"

Te Devoro - Djavan

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sadabuapude - um resumo da história

Sob as asas de uma borboleta à procura de uma estrela...

Há muito tempo, Sada conheceu o amor.
Aprendeu a rasgar sorrisos, a pintar tudo de cor-de-rosa.
Conheceu um valor em si até então latente.
Voou alto, tão alto que chegou a deixar de atribuir sentido ao chão que outrora pisara. Metaforseou-se e transformou-se numa linda borboleta colorida, com asas tão vistosas que a todos contageava de beleza.
Os voos, longos, altos, desprovidos de insegurança, preenchiam os dias claros repletos de arco-íris. Descobriu tanto de bonito! Tudo era de extrema beleza, alegria, perfume, luz, música e cor!
A borboleta conheceu uma estrela que lhe iluminou todos os percursos de cada voo, que a guiou cada vez mais alto, e a incentivou a abrir as asas com todo o seu esplendor...
E como se tornou linda, resplandecente, a borboleta!

Um dia, as asas começaram a fraquejar... a borboleta deixou de conseguir ver, tão encadeada que estava pelo brilho da estrela, o percurso e o sentido do voo.
E como as pétalas de uma flor inadvertidamente colhida com o intuito egoísta e ignorante de conservar a beleza só para si, as asas da borboleta começaram a murchar... e em pouco tempo, toda a borboleta murchou, definhou... deixou de conseguir voar.

E Sada, melancólica, tem-se mantido sob as asas definhadas da borboleta outrora repleta de brilho, procurando uma estrela...
Espreito por entre madeixas de cabelo cansadas...
Passo a língua pelos lábios... doces... gretados...
Por momentos deixo-me acreditar.
O calor toma posse dos meus poros. Aprecio.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

falta de inspiração...

O que escrever quando se não se sente inspirado?
O que escrever quando apetece escrever, mas não sai nada de coerente?
Gostava de sentir um arrepio de lirismo percorrer-me o corpo, que despoletasse através da ponta dos dedos directamente para as teclas que utilizo para escrever, de forma a que quando despejasse tudo o que me vai dentro, pudesse afirmar (para mim): ena, tens mesmo jeito para isto!
Mas a verdade é que me não sinto inspirada...
Engraçado... porque tenho vontade... e a vontade de escrever qualquer coisa ultrapassa-me de tal forma que aqui estou, sem dizer nada com sumo, mas ainda assim, escrevendo qualquer coisa...

quinta-feira, 17 de abril de 2008


Llovizna

Yo quisiera poder ser feliz como un pájaro
Una flor que ha nascido en el campo
Y no espera más que la lluvia o el sol

Yo quisiera nascer cada nueva mañana
En la luz de un rayo de sol que desnuda la más alta montaña

Y bajar en la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba

Yo quisiera sentir libertad como un águila
Cuando abre sus alas y suelta en el valle una sombra fugaz

Y sentirme raíz del mayor de los árboles
El que roza en las nubes sus ramas desnudas y las hace llorar

Su tristeza en la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba

Yo quisiera arrasar todas estas murallas
Las que callan mi voz en un hueco de sombra y piedra mortal

Y decodificar el sentir de la gente
Que no sabe o no puede aprender que vivir es mejor que soñar

Es igual que la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba

Yo quisiera morir en un dia de invierno
Para sentir la lluvia mojarme la cara una última vez

Como sentir tu boca tocándo la mía
Y aunque solo un instante pensar que no es ese mi último adiós

Que morir es cómo esa llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba
M.Veiga
Pois concordo que querer seja poder, a questão é que se fala em querer sem se querer realmente. É fácil dizer "eu quero". E senti-lo? Senti-lo com as entranhas, com o corpo e a alma? Esse sim, é o querer poderoso. Não o de puro bater do pé, ou o só porque sim...Eu quero sentir tudo de todas as maneiras!

Rouquidão - remake

Rouquidão...Oh efémera rouquidão.
Oh dorzinha de cabeça que me incendeia as têmporas e me desconforta o pescoço e a cabeça posicional... Oh...
O pingo escorre-me pela mucosa da narina direita...

Estou sorridente, saltitante, só me apetece gargalhar, gritar com o vento de um ponto mais alto, estar com toda a gente, abraçar toda a gente, beijar todos, um a um, e dançar, e dançar, e dançar, dançar...!!
"Veni, vidi, vici!"
Doem-me os ombros, o pescoço e vários pontos distintos, simétricos, tudo merda.
Tudo merda.
Quero festejar, correr em verdes campos, rio, mato, gritar a plenos pulmões até que me doa a garganta, fique sem voz, ou que me passe esta rouquidão (em que me recuso inegavelmente a sequer pensar na remota possibilidade possibilitiva de negociar o mais ínfimo electrãozinho de proposta de a aceitar. Não, não abdico. Já disse que não. Ponto.), quero dançar, esvoaçar por entre as nuvens, sob as asas de uma borboleta, simplesmente procurando uma estrela.
A luz está sempre lá. Aqui. Abre os olhos, pequena, abre. Porque não há, nem pode haver, maior no mundo.
Bom dia muro cinzento.
Bom dia relvado verde pintalgado de lixo.
Bom dia estação cinzenta.
Bom dia árvores, pedras, casas, fábricas.
Bom dia senhores operários.
Bom dia engravatados.
Bom dia esfomeados.
Bom dia cabrões.
Bom dia crianças.
Bom dia gente.
Bom dia montes do meu coração.
Um grande bom dia.
Bom dia gente, alvíssaras, saudações académicas, olá!
Dia bom para ti, oh sol, sem te ver mas, já sabes, sentindo o calor no corpo, a luz nos olhos cemi-cerrados.
É sempre uma honra, como direi, um prazer. Deleite...
Olá nuvens.
Bom dia suor, correria, stress,, aprendizagens, estudo, busca de motivação, procura de satisfação.
Bem-vindos acordares rabujentos, procissões enregelantes em estado zombie, sonâmbulo, lamentos e invenções de possíveis trocas ou faltas.
Bom dia nuvem farfalhuda fotográfica, branquinha, suculenta, apetecível. Densa. Densidade. One life gotten.
É minha, agora sou eu.
Cá vou, catapultante, sim, sem medo de cair.
Medo? De quê? De fracturar... ironia... Não, gosto mesmo muito deste vôo. Sim!, bom!, estou!
...Ainda estou rouca, mas já passa.

Eu sinto que sei voar. Cá no fundo.
Prometo que a seguir procuro o gato. E literalmente também.
Sorrio.
...E quando um desconhecido te sorri.
Descanso os dedos. Pouso as unhas.
Vou ter de tirar o verniz.

(os anseios e devaneios de menina metamorfoseando-se em mulher, no primeiro capítulo)
Uma boa noite.
Um desejo banal, tantas vezes proferido sem uma qualquer questão à validade da sua intenção, à veracidade do desejo...
Porquê desejar se não é verdadeiramente sentido?
Pois, parece que fica bem, que é boa educação...
que é um cliché por tantos adoptado que acaba sendo aceite sem oposições, sem levantamento de dúvidas, sem espaço aberto para questões.
Deixemo-nos, pois, levar pelo curso da maré, em ponto morto, em modo económico... menos trabalho, menos preocupações.
Renegue-se toda a tentativa de compreensão ou de procura de mais, em quantidade e qualidade. Renegue-se o pensar. Dói. Como um qualquer destes transeuntes, fujo com o rabo à seringa.
Bom dia a todos os que criam
a todos que acreditam na arte
e em si próprios
a todos os que bebem das suas mãos e oferecem
e todos os dias nos oferecem um pouco de si,
mesmo quando sabem que não são recebidos com a mesma espontaneidade,
ingenuidade e entrega com que se nos dão...
Bom dia aos isentos de ganância e espírito cusco
Bom dia aos que sorriem só porque sim
Sempre bom dia àquele que sorri e tem vontade de abraçar o mundo só porque respira...

"Só porque"?
Porquê o emprego de uma justificação?
porquê a dificuldade em falar livremente do que nos vai na alma?
Até eu, que passo os dias a gritar como é bom estar vivo,
como é bom sorrir e amar e sonhar
(porque é essa a recompensa que temos só por estarmos vivos,
pelo que devemos usar e abusar e contagiar os que nos rodeiam
com esta força que todos temos mas muitos se esquecem...)
até eu tenho dificuldade em ser...

A transparência é tão dificil quando todos os que nos rodeiam
nos não deixam respirar sem nos fazer sentir observados e avaliados...

Mas voltei... respiro... E sorrio!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Bom dia

Abro a janela. A luz que se mostra encandeia-me os olhos.
Espreguiço-me.
Estico os braços, as mãos, sinto cada dedo com vontade de tocar neste calor que me eriça os pêlos, em cada centímetro quadrado de pele irradiada pela luz do sol.
Um arrepio. A descarga que me percorre o corpo.
Cada músculo excitado pela passagem deste estímulo solar, da manhã, do dia.
Inspiro. Inalo este ar que me envolve e estimula, e estico-me expirando.
O que expiro, um suspiro de outros dias.
Espreguiço-me. Relaxo o corpo. Fecho os olhos, respiro fundo.
Com os olhos fechados, direcciono a cara para o sol, e sinto-me absorver cada ponto de calor e de luz. Embriago-me.
Articulo cada dedo como se dançasse,
uma espécie de dança oriental de contemplação ao sol.
Espreguiço-me.
Bom dia...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

o melhor

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio?
Neste momento cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas
-Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Tabacaria - A.Campos

domingo, 6 de abril de 2008

A mil por hora

A las doce de la noche
salgo de mi casa
y empiezo a correr.

Dejo mi pasado atrás
y arranco el coche,
solo se vive una vez.

Autopista del sur,
nube gris, mar azul,
el volante en la mano
y a fondo el acelerador.

Una carta en el buzón,
os quiero, pero no
me busquéis, por favor.

Voy a mil por hora,
voy a mil por hora,
sin dirección.
Voy a mil por hora,
voy a mil por hora,
sin dirección.

En el pueblo me asfixiaba,
necesito el aire
de la gran ciudad.

Ojala la carretera
cruce la frontera
de la libertad.

Autopista del sur,
nube gris, mar azul,
el volante en la mano
y a fondo el acelerador.

Nadie puede detenerme,
las gasolineras
me dicen adiós.

Si en algún motel de mi camino
me espera una mujer,
burlare con ella mi destino,
y luego me iré.

Joaquín Sabina

segunda-feira, 31 de março de 2008

atributo ao café de sempre... em honra de tudo... porque tudo prevalece.

Sei de alguém por demais envergonhado
que por ser tão desajeitado
nunca foi capaz de falar

Só que hoje viu o tempo que perdeu
sabes, esse alguém sou eu
e agora eu vou-te contar

Sabes lá o que é que eu tenho passado
estou sempre a fazer-te sinais
e tu não me tens ligado

E aqui estou eu
a ver o tempo a passar
a ver se chega o tempo
de haver tempo p'ra te falar

Eu não sei o que é que te hei-de dar
nem te sei inventar frases bonitas
mas aprendi uma ontem, só que já me esqueci
então, olha, gosto muito de ti

Podes crer que à noite o sono é ligeiro
fico à espera o dia inteiro
p'ra poder desabafar

Mas como sempre
chega a hora da verdade
e falta-me o à-vontade
acabo por me calar

Falta-me o jeito
ponho-me a escrever e rasgo
cada vez a tremer mais
e às vezes até me engasgo

Nada a fazer
e é por isto que eu te conto
é tarde p'ra não dizer
digo como sei e pronto...
Quadrilha
"enquanto houver terra para andar, enquanto houver ventos e mares, a gente vai continuar..." J.Palma

quarta-feira, 26 de março de 2008


Realizar. Sentir. Conviver. Sorrir. Pensar. Amar. repeat
"Celebre a vida a 100%!"
Slogans...
Usam e abusam da nossa ingenuidade e fragilidades.
Parece uma república de comandos.
Subprodutos do progresso...humpf...


Somos todos feitos da mesma merda. E a merda é mole.
Umas vezes dura, tão dura que nos rasga o cu até sangrar. Uma dor que dá vontade de gritar, espernear, morder a língua, cerrar os punhos.
Outras vezes, tão mole que limpamos uma, duas, três, quatro vezes... tão mole que nos esmerdalhamos até ficarmos secos...
Ultimamente assolam-me cheiros antigos.
Cheiros conhecidos que imortalizaram algures no passado momentos (por alguma razão hoje desconhecida) com sabor especial.




A vida segue lá fora...
"Não falei contigo com medo que os montes e vales em que me achas caíssem a teus pés
Acredito e entendo que a estabilidade lógica de quem não quer explodir faça bem ao escudo que és
Saudade é o ar que vou sugando e aceitando como fruto de Verão nos jardins do teu beijo
Mas sinto que sabes que sentes também que num dia maior serás trapézio sem rede
a pairar sobre o mundo e tudo o que vejo
É que hoje acordei e lembrei-me que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua
nua numa chama minha e tua
Desconfio que ainda não reparaste que o teu destino foi inventado por gira-discos estragados aos quais te vais moldando
E todo o teu planeamento estratégico de sincronização do coração são leis como paredes e tectos
cujos vidros vais pisando
Anseio o dia em que acordares por cima de todos os teus números, raízes quadradas de somas subtraídas, sempre com a mesma solução
Podias deixar de fazer da vida um ciclo vicioso e harmonioso ao teu gesto mimado
e à palma da tua mão..."
T.
- Apaguei porque hesitei quando me pus a pensar no que acharias de tornar público um relato.
- Não precisas de dizer nada.
- Preciso. Porque agora sinto-me mal com isso. Faço tantas coisas sem pensar...
- Não precisas de explicar.
- Mas eu quero. Porque sou difícil de entender. A verdade é que dei importância a algo que não tinha importância nenhuma. Escrevo o que me apetece, o que me vai na alma. Assim como digo e faço o que me vai no espírito. Às vezes mordo a língua antes de falar, outras, só depois...
- Porque te expões?
- Não me exponho. Ventilo. Despejo o que me vai no pensamento, tornando público o que não tenho vergonha de partilhar. Porque preciso de tornar palpável o que me vai cá dentro, para que também eu possa analisar e entender-me. Como quem respira fundo.

É fácil pensar demais.

terça-feira, 25 de março de 2008

Lume

"Vai caminhando desamarrado
nos nós e laços que o mundo faz
vai abraçando desenleado
de outros abraços que a vida dá
vai-te encontrando na água e no lume
na terra quente até perder
o medo, o medo levanta muros
e ergue bandeiras para nos deter
Não percas tempo que o tempo corre
só quando dói é devagar
e dá-te ao vento como um veleiro
solto no mais alto mar
Liberta o grito que trazes dentro
e a coragem e o amor
mesmo que seja só um momento,
mesmo que traga alguma dor
só isso faz brilhar o lume
que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguém pode
nunca apagar dentro de ti"
M.Veiga

quinta-feira, 20 de março de 2008


quando cai neve dizem que é natal e que vão chegar as prendas...
pobre de mim que vive ao pé do mar onde o sol desfaz as lendas...

ser um pássaro...


Era uma vez um jovem. Uma vez encontrou uma fada que lhe ofereceu um desejo.
Ele escolheu transformar-se num pássaro.
A fada questionou-o acerca da natureza do desejo...
O jovem explicou:

- O pássaro tem asas... todo o ser humano deseja ter asas para voar por esse céu fora, ver o mundo de cima, sentir o vento, o sol e a chuva bater no corpo nu, de braços abertos...

-Todo o ser humano deseja no seu íntimo poder, a qualquer momento, abrir as asas e viajar, poder saltar pela janela e desaparecer num instante, chegar a todo o lado, com a possibilidade de ver tudo de um ponto mais alto, em que tudo pareça mais pequeno e insignificante.
...e que a qualquer momento possa baixar as asas e repousar naquele lugar escolhido...

-Todo o ser humano quer ser como um pássaro, que do alto do céu que escolhe para abrir asas, consegue ver, cheirar, ouvir tudo com a clareza e ausência de consciência que a sua natureza lhe permite...
...Apreciar... sem ter de pensar...

- Quero ser como um pássaro... os pássaros têm um cérebro bem pequeno...

o mundo que passou por mim - parte III

Desejo carnal versus desejo intelectual.

O desejo carnal provém-nos das entranhas do corpo.
O desejo intelectual, do emaranhado complexo da mente.

O desejo intelectual, tal como o carnal, é indomável.
Surge no decorrer de uma conversa, quando se detectam pontos de interesse comum, ideias semelhantes ou formas de pensar que, por algum motivo intrínseco e incontrolável, nos fascinam.
Pode ou não estar associado ao desejo carnal.
Inclui a vontade de falar sobre tudo. Vontade de partilhar ideias, de discutir pontos de vista, de falar sobre filmes e livros, de discutir sobre questões denominadas filosóficas...
O desejo intelectual, quando alimentado, permite alcançar um orgasmo bem mais estimulante do que o físico... passível de prolongar durante horas intermináveis...
Cada palavra simula um suspiro soprado ao ouvido...
Cada frase adquire formas e cores passíveis de arrepiar cada pêlo do pescoço...
Cada entoação transparece a leveza consequente de partilhar pensamentos com alguém que se coloca no mesmo comprimento de onda... consciente ou inconscientemente...
Sabe tão bem... este orgasmo que se prolonga enquanto existir saliva e fluidez no processo pensamento-palavra...


A vida corre, tanto mais depressa quanto mais envelhecemos...

À medida que os anos correm, parece que os minutos voam e as horas se nos fogem por entre os dedos, como a areia escorre pelas paredes lisas da ampulheta...

qual o segredo deste sorriso enfeitado de longos cabelos brancos ao vento?



quarta-feira, 19 de março de 2008

O mundo que passou por mim - parte II

Gente.
Transeuntes que, situados em determinado intervalo espaço-temporal, se enquadram no mundo.

Tudo começa com um olhar. Um momento que, não sendo pré-determinado ou pré-definido, inicia um processo irreversível, complexo, constituído por uma série de acontecimentos espirolados e encadeados que originam a gente que compõe o mundo.
Tudo começa com um olhar. Um momento em que duas pessoas cruzam o olhar e um conjunto de processos quimico-físicos se desencadeiam... o olhar de quem olha por olhar torna-se o olhar de quem observa... a observação transforma-se em avaliação... a avaliação em desejo...

Quando duas pessoas cruzam olhares e se, por um motivo pouco discutível, esse primeiro olhar é seguido de um segundo, o de quem observa, (sim pois, felizmente, para o nosso bem-estar cerebral, dos ziliões de olhares que cruzamos com outros olhares durante os anos de vida em que somos gente, só algumas centenas são seguidos de uma segunda apreciação, ou melhor, da observação) dá-se então início ao processo que os peritos designam de acasalamento, numa perspectiva biológica.

A observação permite identificar se o olhar é correspondido, antecedendo a avaliação do produto e clarificando a sua validade e pertinência. Sendo muitas vezes veloz, a observação é o pilar determinante do processo de formação de gente, já que é o segundo olhar e, assim, o primeiro sinal de interesse.
Sendo positiva, activa instantaneamente a avaliação, em que se determina se existe troca de reacções fisico-químicas, maioritariamente endócrinas, que conduzam ao turbilhão de sensações de que é feito o desejo. No decurso da avaliação pode ser iniciada uma abordagem ao objecto, em que se recolhe toda a informação possível e necessária para determinar se de facto o observado é passível de ser desejado.

O engate. A apreciação. O interesse.
Tiram-se medidas, medem-se forças, mostram-se qualidades, evidenciam-se qui pro quos, escondem-se defeitos. O jogo. A dança da conquista, o bailado das insinuações, a evidência do desejo.

Podem utilizar-se inúmeros pressupostos ou premissas para elaborar esta teoria da origem do desejo. Poder-se-ia dizer que nasce no primeiro olhar, ou que a faísca surge aquando da observação, ou que se só permite (para os controlados) que se desenvolva quando se identifica o mesmo comprimento de onda na outra pessoa envolvida, ou que não é de todo controlável e sequer depende de que quer que seja...
Poderia citar até alguns teóricos que porventura, credenciados ou não, tenham enuradas as premissas em que assenta a teoria do desejo... mas não almejo tornar estas linhas numa tese, pelo que me permito deixar fluir as palavras com base na simplicidade da minha existência, no mundo que passou por mim e me metamorfoseou em sadabuapude.

Mas antes, importa prosseguir com a lengalenga da origem da gente.

O desejo. O desejo carnal versus desejo intelectual.
O desejo carnal: a incapacidade de tirar os olhos e o pensamento do objecto. A vontade incontrolável e insaciável de beber todas as palavras, de lamber todos os poros... O estremecimento, o arrepio que percorre a espinha e aquece as vísceras e o formigueiro em todo o corpo e o galopar dentro do peito. Que se não confunda desejo com paixão! O desejo antecede, faz parte e pode ser independente da paixão.
A paixão é um processo elaborado. Doloroso. Um ramalhete de antíteses, benza-a o divino.
O desejo transforma o corpo numa entidade independente e quase indomável...

(to be continued sometime soon...)

A dúvida: quando o racional interrompe a chama

Ela tem as suas convicções. Ideias que formou ao longo da sua existência e vivências e tomou para si,como verdades regentes das suas atitutes e opções. Quando fala, as suas convicções tornam-se transparentes para os que a escutam com clareza e perspicácia de compreensão.

Não é fácil para o homem desprender-se do que os olhos observam. Quando conversa com uma mulher, todas os pequenos pormenores associados à sua expressão corporal constituem distracções visuais: cada pestanejar, esboço de sorriso, cada pequeno tremor muscular (indiciante da percepção da mulher de estar a ser observada e apreciada).
Isto, no decorrer de um encontro entre duas pessoas que per si se sentem atraídas mutuamente, enevoa a capacidade de falar e ouvir com clareza.

A partir do momento em que ela se apercebe do olhar avaliador-apreciador dele... As certeza das convicções que até há pouco defendiam com garras e dentes estremece. Engole em seco. Sente um arrepio, que desemboca num reajuste das pupilas. O desejo apodera-se-lhe do corpo. Agora, as suas garras e dentes querem agarrá-lo a ele.

Quer controlar-se. Para quê? Pondera. Controlar-se permitir-lhe-á controlar a situação. Para adquirir o estatuto de difícil, a pela qual é preciso elevar as fasquias da conquista. Como saber? Ele pode ser recto e assumir no momento que se ela não quer, terá de se conter e ficar por aí. E ambos chucharão no dedo pois é possível que sejam igualmente orgulhosos.
Quer ceder. Porque não seguir os seus impulsos? Vai saber tão bem! Mas e depois? Ele vai ter o que queria. Ela também... E se depois, nada?
É facil,pensa. Segue os seus instintos e desejos. Basta que se não deixe apaixonar. Depois tudo será fácil.

Ele diz que não aguenta mais. Inundam-se.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


Apetece-me gritar!
Dão-me ganas de escancarar a boca e vomitar a garganta mais as cordas vocais e ensurdecer o mundo.
E inundá-lo da viscosa e fétida substância que guardo aqui dentro contra minha vontade.
Quero gritar até enrouquecer!
Estou cansada de mim, da minha latência, da minha escolha de levitar sobre as chamas que vou permitindo que me consumam...
Estou na eminência de explodir... já me vou sentindo com sialorreia...
Mas acho que quando ceder a esta iminência de vómito, não vai haver poder antiemético que me aguente...
E o receio vai-me mantendo a levitar...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

o mundo que passou por mim


Eu, egocêntrica. O mundo passou por mim, fez-me, trespassou-me, redefiniu-me.
Não há muito tempo, o mundo parecia ser algo de inatingível, gigante, um desconhecido que não amedrontando, alimentava e se alimentava do desejo de conhecimento, da busca por respostas, da procura por um lugar em que me encaixasse e sentisse gente.
Gente responsável, contributiva, remunerada, habilitada, credenciada e competente para o ocupar, com o reconhecimento necessário para a postura confiante indispensável para garantir o lugar reservado no mundo.
Acontece que a reserva (garantida) no lugar da carruagem que viaja no mundo não tem livro de instruções, nem qualquer outro documento não redigido. O lugar tem um caderno embalado, fechado, em branco, pendurado por um elástico ao assento da poltrona da carruagem. Há palavras por escrever. Há um texto a ser redigido, sem regras de semântica, forma ou conteúdo, gramática ou apresentação, ortografia ou parcimónia, língua ou sentido.
Há que ser escrito.

Assim, com a primeira letra ou número ou símbolo redigido no caderno, se inicia o processo de formação de gente.
Gente. A representação do eu aqui, dos seres humanos no mundo. Gente agride o tímpano. Fiquemo-nos por um substantivo lírico que avelude o ouvido e a língua e a letra e a palavra e a mão e o olho e a linha e a folha. E o caderno. E o mundo.

O mundo que passou por mim faz-me gente. Faz-me sadabuapude. Parece mágico. Registado e aceite.

perdi o meu outro blog...

vale a pena espreitar... www.sobasasasdeumaborboleta.blogspot.com
sometimes a man gets carried away
when he feels like we should be having his fun
and he's much too blind to see the damage he's done
'cause sometimes a man must awake to find that really he has noone