quarta-feira, 19 de março de 2008

O mundo que passou por mim - parte II

Gente.
Transeuntes que, situados em determinado intervalo espaço-temporal, se enquadram no mundo.

Tudo começa com um olhar. Um momento que, não sendo pré-determinado ou pré-definido, inicia um processo irreversível, complexo, constituído por uma série de acontecimentos espirolados e encadeados que originam a gente que compõe o mundo.
Tudo começa com um olhar. Um momento em que duas pessoas cruzam o olhar e um conjunto de processos quimico-físicos se desencadeiam... o olhar de quem olha por olhar torna-se o olhar de quem observa... a observação transforma-se em avaliação... a avaliação em desejo...

Quando duas pessoas cruzam olhares e se, por um motivo pouco discutível, esse primeiro olhar é seguido de um segundo, o de quem observa, (sim pois, felizmente, para o nosso bem-estar cerebral, dos ziliões de olhares que cruzamos com outros olhares durante os anos de vida em que somos gente, só algumas centenas são seguidos de uma segunda apreciação, ou melhor, da observação) dá-se então início ao processo que os peritos designam de acasalamento, numa perspectiva biológica.

A observação permite identificar se o olhar é correspondido, antecedendo a avaliação do produto e clarificando a sua validade e pertinência. Sendo muitas vezes veloz, a observação é o pilar determinante do processo de formação de gente, já que é o segundo olhar e, assim, o primeiro sinal de interesse.
Sendo positiva, activa instantaneamente a avaliação, em que se determina se existe troca de reacções fisico-químicas, maioritariamente endócrinas, que conduzam ao turbilhão de sensações de que é feito o desejo. No decurso da avaliação pode ser iniciada uma abordagem ao objecto, em que se recolhe toda a informação possível e necessária para determinar se de facto o observado é passível de ser desejado.

O engate. A apreciação. O interesse.
Tiram-se medidas, medem-se forças, mostram-se qualidades, evidenciam-se qui pro quos, escondem-se defeitos. O jogo. A dança da conquista, o bailado das insinuações, a evidência do desejo.

Podem utilizar-se inúmeros pressupostos ou premissas para elaborar esta teoria da origem do desejo. Poder-se-ia dizer que nasce no primeiro olhar, ou que a faísca surge aquando da observação, ou que se só permite (para os controlados) que se desenvolva quando se identifica o mesmo comprimento de onda na outra pessoa envolvida, ou que não é de todo controlável e sequer depende de que quer que seja...
Poderia citar até alguns teóricos que porventura, credenciados ou não, tenham enuradas as premissas em que assenta a teoria do desejo... mas não almejo tornar estas linhas numa tese, pelo que me permito deixar fluir as palavras com base na simplicidade da minha existência, no mundo que passou por mim e me metamorfoseou em sadabuapude.

Mas antes, importa prosseguir com a lengalenga da origem da gente.

O desejo. O desejo carnal versus desejo intelectual.
O desejo carnal: a incapacidade de tirar os olhos e o pensamento do objecto. A vontade incontrolável e insaciável de beber todas as palavras, de lamber todos os poros... O estremecimento, o arrepio que percorre a espinha e aquece as vísceras e o formigueiro em todo o corpo e o galopar dentro do peito. Que se não confunda desejo com paixão! O desejo antecede, faz parte e pode ser independente da paixão.
A paixão é um processo elaborado. Doloroso. Um ramalhete de antíteses, benza-a o divino.
O desejo transforma o corpo numa entidade independente e quase indomável...

(to be continued sometime soon...)

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