quinta-feira, 17 de abril de 2008


Llovizna

Yo quisiera poder ser feliz como un pájaro
Una flor que ha nascido en el campo
Y no espera más que la lluvia o el sol

Yo quisiera nascer cada nueva mañana
En la luz de un rayo de sol que desnuda la más alta montaña

Y bajar en la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba

Yo quisiera sentir libertad como un águila
Cuando abre sus alas y suelta en el valle una sombra fugaz

Y sentirme raíz del mayor de los árboles
El que roza en las nubes sus ramas desnudas y las hace llorar

Su tristeza en la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba

Yo quisiera arrasar todas estas murallas
Las que callan mi voz en un hueco de sombra y piedra mortal

Y decodificar el sentir de la gente
Que no sabe o no puede aprender que vivir es mejor que soñar

Es igual que la suave llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba

Yo quisiera morir en un dia de invierno
Para sentir la lluvia mojarme la cara una última vez

Como sentir tu boca tocándo la mía
Y aunque solo un instante pensar que no es ese mi último adiós

Que morir es cómo esa llovizna
Que cae despertando la tierra
Con el frescor, la claridad del alba
M.Veiga
Pois concordo que querer seja poder, a questão é que se fala em querer sem se querer realmente. É fácil dizer "eu quero". E senti-lo? Senti-lo com as entranhas, com o corpo e a alma? Esse sim, é o querer poderoso. Não o de puro bater do pé, ou o só porque sim...Eu quero sentir tudo de todas as maneiras!

Rouquidão - remake

Rouquidão...Oh efémera rouquidão.
Oh dorzinha de cabeça que me incendeia as têmporas e me desconforta o pescoço e a cabeça posicional... Oh...
O pingo escorre-me pela mucosa da narina direita...

Estou sorridente, saltitante, só me apetece gargalhar, gritar com o vento de um ponto mais alto, estar com toda a gente, abraçar toda a gente, beijar todos, um a um, e dançar, e dançar, e dançar, dançar...!!
"Veni, vidi, vici!"
Doem-me os ombros, o pescoço e vários pontos distintos, simétricos, tudo merda.
Tudo merda.
Quero festejar, correr em verdes campos, rio, mato, gritar a plenos pulmões até que me doa a garganta, fique sem voz, ou que me passe esta rouquidão (em que me recuso inegavelmente a sequer pensar na remota possibilidade possibilitiva de negociar o mais ínfimo electrãozinho de proposta de a aceitar. Não, não abdico. Já disse que não. Ponto.), quero dançar, esvoaçar por entre as nuvens, sob as asas de uma borboleta, simplesmente procurando uma estrela.
A luz está sempre lá. Aqui. Abre os olhos, pequena, abre. Porque não há, nem pode haver, maior no mundo.
Bom dia muro cinzento.
Bom dia relvado verde pintalgado de lixo.
Bom dia estação cinzenta.
Bom dia árvores, pedras, casas, fábricas.
Bom dia senhores operários.
Bom dia engravatados.
Bom dia esfomeados.
Bom dia cabrões.
Bom dia crianças.
Bom dia gente.
Bom dia montes do meu coração.
Um grande bom dia.
Bom dia gente, alvíssaras, saudações académicas, olá!
Dia bom para ti, oh sol, sem te ver mas, já sabes, sentindo o calor no corpo, a luz nos olhos cemi-cerrados.
É sempre uma honra, como direi, um prazer. Deleite...
Olá nuvens.
Bom dia suor, correria, stress,, aprendizagens, estudo, busca de motivação, procura de satisfação.
Bem-vindos acordares rabujentos, procissões enregelantes em estado zombie, sonâmbulo, lamentos e invenções de possíveis trocas ou faltas.
Bom dia nuvem farfalhuda fotográfica, branquinha, suculenta, apetecível. Densa. Densidade. One life gotten.
É minha, agora sou eu.
Cá vou, catapultante, sim, sem medo de cair.
Medo? De quê? De fracturar... ironia... Não, gosto mesmo muito deste vôo. Sim!, bom!, estou!
...Ainda estou rouca, mas já passa.

Eu sinto que sei voar. Cá no fundo.
Prometo que a seguir procuro o gato. E literalmente também.
Sorrio.
...E quando um desconhecido te sorri.
Descanso os dedos. Pouso as unhas.
Vou ter de tirar o verniz.

(os anseios e devaneios de menina metamorfoseando-se em mulher, no primeiro capítulo)
Uma boa noite.
Um desejo banal, tantas vezes proferido sem uma qualquer questão à validade da sua intenção, à veracidade do desejo...
Porquê desejar se não é verdadeiramente sentido?
Pois, parece que fica bem, que é boa educação...
que é um cliché por tantos adoptado que acaba sendo aceite sem oposições, sem levantamento de dúvidas, sem espaço aberto para questões.
Deixemo-nos, pois, levar pelo curso da maré, em ponto morto, em modo económico... menos trabalho, menos preocupações.
Renegue-se toda a tentativa de compreensão ou de procura de mais, em quantidade e qualidade. Renegue-se o pensar. Dói. Como um qualquer destes transeuntes, fujo com o rabo à seringa.
Bom dia a todos os que criam
a todos que acreditam na arte
e em si próprios
a todos os que bebem das suas mãos e oferecem
e todos os dias nos oferecem um pouco de si,
mesmo quando sabem que não são recebidos com a mesma espontaneidade,
ingenuidade e entrega com que se nos dão...
Bom dia aos isentos de ganância e espírito cusco
Bom dia aos que sorriem só porque sim
Sempre bom dia àquele que sorri e tem vontade de abraçar o mundo só porque respira...

"Só porque"?
Porquê o emprego de uma justificação?
porquê a dificuldade em falar livremente do que nos vai na alma?
Até eu, que passo os dias a gritar como é bom estar vivo,
como é bom sorrir e amar e sonhar
(porque é essa a recompensa que temos só por estarmos vivos,
pelo que devemos usar e abusar e contagiar os que nos rodeiam
com esta força que todos temos mas muitos se esquecem...)
até eu tenho dificuldade em ser...

A transparência é tão dificil quando todos os que nos rodeiam
nos não deixam respirar sem nos fazer sentir observados e avaliados...

Mas voltei... respiro... E sorrio!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Bom dia

Abro a janela. A luz que se mostra encandeia-me os olhos.
Espreguiço-me.
Estico os braços, as mãos, sinto cada dedo com vontade de tocar neste calor que me eriça os pêlos, em cada centímetro quadrado de pele irradiada pela luz do sol.
Um arrepio. A descarga que me percorre o corpo.
Cada músculo excitado pela passagem deste estímulo solar, da manhã, do dia.
Inspiro. Inalo este ar que me envolve e estimula, e estico-me expirando.
O que expiro, um suspiro de outros dias.
Espreguiço-me. Relaxo o corpo. Fecho os olhos, respiro fundo.
Com os olhos fechados, direcciono a cara para o sol, e sinto-me absorver cada ponto de calor e de luz. Embriago-me.
Articulo cada dedo como se dançasse,
uma espécie de dança oriental de contemplação ao sol.
Espreguiço-me.
Bom dia...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

o melhor

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio?
Neste momento cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas
-Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Tabacaria - A.Campos

domingo, 6 de abril de 2008

A mil por hora

A las doce de la noche
salgo de mi casa
y empiezo a correr.

Dejo mi pasado atrás
y arranco el coche,
solo se vive una vez.

Autopista del sur,
nube gris, mar azul,
el volante en la mano
y a fondo el acelerador.

Una carta en el buzón,
os quiero, pero no
me busquéis, por favor.

Voy a mil por hora,
voy a mil por hora,
sin dirección.
Voy a mil por hora,
voy a mil por hora,
sin dirección.

En el pueblo me asfixiaba,
necesito el aire
de la gran ciudad.

Ojala la carretera
cruce la frontera
de la libertad.

Autopista del sur,
nube gris, mar azul,
el volante en la mano
y a fondo el acelerador.

Nadie puede detenerme,
las gasolineras
me dicen adiós.

Si en algún motel de mi camino
me espera una mujer,
burlare con ella mi destino,
y luego me iré.

Joaquín Sabina