Eu, egocêntrica. O mundo passou por mim, fez-me, trespassou-me, redefiniu-me.
Não há muito tempo, o mundo parecia ser algo de inatingível, gigante, um desconhecido que não amedrontando, alimentava e se alimentava do desejo de conhecimento, da busca por respostas, da procura por um lugar em que me encaixasse e sentisse gente.
Gente responsável, contributiva, remunerada, habilitada, credenciada e competente para o ocupar, com o reconhecimento necessário para a postura confiante indispensável para garantir o lugar reservado no mundo.
Acontece que a reserva (garantida) no lugar da carruagem que viaja no mundo não tem livro de instruções, nem qualquer outro documento não redigido. O lugar tem um caderno embalado, fechado, em branco, pendurado por um elástico ao assento da poltrona da carruagem. Há palavras por escrever. Há um texto a ser redigido, sem regras de semântica, forma ou conteúdo, gramática ou apresentação, ortografia ou parcimónia, língua ou sentido.
Há que ser escrito.
Assim, com a primeira letra ou número ou símbolo redigido no caderno, se inicia o processo de formação de gente.
Gente. A representação do eu aqui, dos seres humanos no mundo. Gente agride o tímpano. Fiquemo-nos por um substantivo lírico que avelude o ouvido e a língua e a letra e a palavra e a mão e o olho e a linha e a folha. E o caderno. E o mundo.
O mundo que passou por mim faz-me gente. Faz-me sadabuapude. Parece mágico. Registado e aceite.
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